segunda-feira, 6 de junho de 2011

Do genial Adolar Gangorra

Li esse texto em 2008 e ainda dou boas risadas quando releio isso.
Não conheço o cara e não conheço quem o conheça, o viu, ou o ouviu (confuso isso, não!). É dele, também, "Análise comportamental e crítica da música Eduardo e Mônica". A quem interessar possa; adolargangorra.blogspot.com


COMO ME FUDI NO SHOW DO LOS HERMANOS

Voltei para o Brasil há pouco tempo. Vivia com minha família na Inglaterra desde garoto. Estou morando no Rio de Janeiro há uns três meses e agora estou começando a me enturmar na Universidade. Não sei de muita coisa do que está rolando por aqui, então estou querendo entrar em contato com gente nova e saber o que tá acontecendo no meu país e, principalmente, entrar em bastante contato umas garotas legais, né?

Mas foi meio por acaso que eu conheci uma menina maneiríssima chamada Tainá. Diferente esse nome, hein? Nunca tinha ouvido. Estava procurando desesperadamente um banheiro no campus quando vi uma porta que parecia ser a de um. Na verdade, era o C.A. da Antropologia. A garota já foi logo me perguntando se eu queria me registrar em algum movimento estudantil de sei lá o que. Que bacana! Que politizada ela era! E continuou a me explicar a importância de eu me conscientizar enquanto enrolava em beque da grossura de uma garrafa térmica. Pensei em dizer que estava precisando cagar muito rápido, mas ela era tão gata que eu falei que sim. Tainá: cabelos pretos, baixinha e com uma estrutura rabial nota dez... Aí, acho que ela me deu um certo mole... Conversa vai, conversa vem, ela me chamou para um show de uma banda naquela noite que eu nunca tinha ouvido falar: Loser Manos. Nome engraçado esse! Estava fazendo uma força sobre-humana para manter a moréia dentro da caverna, mas realmente tava foda. Continuamos conversando e rindo. Ela riu até bastante, mas eu, na verdade, tava era mesmo rilhando os dentes porque assim ficava mais fácil disfarçar as contrações faciais que eu estava tendo ao travar o meu cu para não cagar ali mesmo na frente dela.

Pensando bem, eu tinha ouvido falar sim alguma coisa sobre essa banda lá na Europa ainda, mas não lembro bem o quê. Ah, acho que vi esses caras hoje no noticiário local dando uma entrevista. Achei que fosse uma banda de crentes tradicionalistas tipo Amish.Todos de barba, com umas roupas meio fudidas. Parecia até a Família Buscapé! Dão a impressão de ser uns sujeitos legais, mas o que me chamou a atenção mesmo foi o jeito da repórter, como se fosse a fã nº 1 deles, como se estivesse cobrindo a volta do Beatles ou coisa parecida. Não entendi esse jeito "vibrão" de trabalhar. Bom, mas se eu conseguir ficar com o bicho bom da Tainá hoje à noite, já tô no lucro! Marcamos de nos encontrar na entrada do ginásio. Rapaz, acho que tô dando sorte aqui no Brasil!

Ia ser fácil achar essa garota no meio da multidão. Ela se veste de uma maneira estilosa, diferente, bem individual: sandália de dedo, saia indiana, camiseta de alça, uma bolsa a tiracolo e o mais interessante: um óculos retangular, de armação escura e grossa, engraçado até! Depois de uns mil "Desculpe, achei que você fosse uma amiga minha.", finalmente encontrei Tainá e seu grupo de amigos. Cacete, isso sim é que é moda! Parecia uniforme de escola!

Ela me apresentou suas amigas, Janaína e Ana Clara e seus respectivos namorados, Francisco e Bento. Uma mistura de fazendeiros com intelectuais. Um cara de macacão, de sandália de pneu e com ar professoral. Outro de colete, tênis adidas, óculos e também com ar professoral. Pareciam ser legais, "do bem" como eles mesmo falam... Mas que não me deram muita conversa. "Do bem", isso mesmo! Gíria nova... Todos aqui são "do bem". E que nomes tão simples e idílicos! Janaína, Ana Clara, Francisco, Bento e Tainá. Nada de Rogérios ou Robertos. E eu que já tava me sentindo meio culpado por me chamar Washington... Realmente estava no meio de uma nova época da juventude universitária brasileira!

Comecei a conversar com a Tainá antes que a banda entrasse no palco. Aí... acho que tá rolando uma condição até! Quem sabe posso me dar bem hoje? Ela começou a falar de música: "De quem você é fã?", perguntou. Pô, eu me amarro no George..." Ela imediatamente me interrompeu, dizendo alto: "Seu Jorge? Eu também amo o Seu Jorge!" Puxa, que legal! Ela gosta tanto do George Harrison que se refere a ele com uma intimidade única! Chama ele de "Seu"! Seu Jorge! Isso é que é fã! "Legal você já conhecer ele, hein? Eu sabia que ele ia se dar bem na Europa! O Seu Jorge é um gênio!", ela emendou. Pô, eu morava na Inglaterra. Como eu não ia conhecer o George Harrison?

Essa eu não entendi...

Logo ela perguntou quais bandas que eu gostava. "Eu curtia aquela banda da Bahia...".

"Ah, Os Novos Baianos, né?? Adoro também!" "Não, Camisa de Vênus! "Silvia! Piranha!" cantei, rindo. A cara que ela fez foi de quem tinha bebido um balde de suco de limão com sal. Senti que ela não gostou muito da piada. Tentei consertar: "Achava eles engraçados, mas era coisa de moleque mesmo, sabe?" Óbvio que não funcionou... Aí, acho que dei um fora...

Depois, Tainá foi me explicando que o tal Loser Manos é a melhor banda do Brasil, etc., etc., etc., e que eles "promovem um resgate da boa música brasileira". "Tipo Os Raimundos com o forró?", perguntei. "Claro que não!", disse ela meio exaltada! Ela me falou que não se pode comparar os Hermanos com nada porque "eles são únicos", apesar de hoje existirem outros excelentes artistas já reverenciados pela mídia do Rio de Janeiro como Pedro Luis e a Parede, Paulinho Moska, O Rappa, Ed Motta, Orquestra Imperial, Max de Castro, Simoninha e Farofa Carioca. Ela mencionou também "Marginalia" ou coisa parecida. Foi isso mesmo que eu ouvi? Achei que ela estivesse elogiando eles... Esses foram os nomes artísticos mais escrotos que já tinha ouvido, mas fiquei quieto. Fico feliz em saber sobre essa nova onda musical pois quando saí do Brasil o que fazia sucesso no Rio era Neuzinha Brizola e seu hit "Mintchura". Ainda bem que tudo mudou, né?

Só depois percebi que o nome da banda é em espanhol: Los Hermanos. Ah bom! Mas se eles são tão brasileiros assim porque não se chamam "Os Irmãos"? Quando saí daqui os nomes de muitas bandas costumavam ser em inglês e até em latim. Ainda bem que essa moda de nomes de bandas em espanhol não pegou no Brasil!

Pelo que me lembro, ao explicar qual é a dos "Hermanos", ela usou a expressão "do bem" umas 37 vezes e disse que eles falam de romantismo, lirismo, samba e circo. Legal, mas circo? Pô, circo é foda! Uma tradição solidificada nos tempos medievais que ganha dinheiro maltratando animais. Onde está a poesia de ver um urso acorrentado pelo pescoço tentando se equilibrar miseravelmente em cima de uma bola enquanto é puxado por um cara com um chicote na mão? Rá, rá, rá... Engraçado pra caralho! Na boa, circo é meio deprimente. Palhaço de circo só troca tapão na cara e espirra água nos olhos dos outros com flor de lapela e quando sai do picadeiro, vai chorar no camarim. Que merda! A única coisa legal no circo mesmo é quando ele pega fogo! Isso sim que é um espetáculo de verdade! Aquela correria toda, etc. Senti que essa galera se amarra em circo. Não faz sentido se eles são tão politicamente corretos assim, né? E os pobres animais? E eu querendo não passar em branco na conversa com a Tainá, mas não conseguia lembrar de jeito nenhum a única coisa que eu sabia sobre a banda... Cacete...! O que era mesmo?

De repente, uma gritaria histérica! O show tava começando! O ginásio veio a baixo! Perguntei pra ela: "Eles são todo irmãos, né, tipo o Hanson?" Ela disse um "não" esquisito, como se eu tivesse debochando. Todos eles usam uma barba no estilo Velho Testamento e se chamam "Los Hermanos"! O que ela queria que eu pensasse? Após ouvir a primeira música deu pra ver que os caras são profissionais mesmo, tocam muito bem e são completamente idolatrados pelo público, para dizer o mínimo. Fiquei prestando atenção ao show. Pô, as músicas são boas! Dá pra ver uma influência de Weezer, Beatles e Chico Buarque. Esse aí é fodão, excelente compositor mesmo. Lá na Inglaterra conhecia uns caras que eram ligados ao movimento "Dark", como chamam por aqui. São os sujeitos que gostam de The Cure, Bauhaus, Sister of Mercy, etc. E tem a maior galera aqui no Brasil também que se veste de preto, não toma sol, curte um pessimismo niilista e se amarra nessas bandas. Mas se eles sacassem que o Chico Buarque é o genuíno artista "Dark" brasileiro... Pô, é só ouvir as músicas dele pra perceber: "Morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego" ou "O tempo passou na janela é só Carolina não viu". "Pai, afasta de mim esse cálice, de vinho tinto de sangue" ou "Taca pedra na Geni, taca bosta na Geni, ela é boa pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni". Tudo alegrão, né? Aí, se eu fosse dark, só ia ouvir Chico Buarque, brother!

Tentei reengatar a conversa dizendo que achava ao baixista o melhor músico dos Los Hermanos. Ela respondeu, meio irritada: "Mas ele não é da banda!" Como eu ia saber? O cara tem barba também! Aí, não tô entendendo mais nada...

Adiante, ela me disse que o cara que ela mais gostava na banda era um tal de Almirante. Depois de alguns minutos deu pra ver que o camarada imita um pouco os trejeitos do Paul McCartney, só que em altíssima rotação. Ele fica se contorcendo feito um maluco enquanto os outros ficam estáticos. É engraçado até! Parece que ele tem uma micose num lugar difícil de coçar! E fica falando e rindo direto. Ele é o irmão gaiato do cara que canta a maioria das músicas, o tal de Marcelo Campelo, como anunciaram no noticiário local hoje. Isso mesmo, Marcelo e Almirante Campelo: "Os Irmãos"! Legal! Já tava me inteirando! Ah, e tem também dois gordinhos de barba que estão lá também, mas devem ser filhos de outro casamento...

Tava um calor desgraçado, coisa que eu realmente não estou mais acostumado. Fui rapidão ao bar pra beber alguma coisa. Comprei umas quatro latas de refrigerante que era o único troço que tava gelado para oferecer para meus novos amigos: "Aí, trouxe umas coca-colas pra vocês!" Ouvi a seguinte resposta: "Coca-Cola? Isso é muito imperialista... Guaraná é que é brasileiro!" Puxa, que pessoal politizado... Isso mesmo, viva o Brasil! "Yankees, go home", rá, rá! Outro fora que eu dei! Mas, pensando bem, eles não usam o Windows e o Word pra fazer trabalhos da universidade? Ou usam o "Janelas"? Dessas coisas gringas não é tão mole de abrir mão, né? Mais fácil não tomar Coca-Cola! Isso sim que é ativismo estudantil consciente! Posicionamentos políticos à parte, tava quente pra burro, então bebi tudo sob o olhar meio atravessado de todos eles... fazer o quê?

Lá pelas tantas, começou uma música e todo mundo berrou e pulou. Parecia o fim do mundo. Logo nos primeiros acordes, reconheci o som e falei pra Tainá: "Ah, eu sei o que é isso! É um cover do Weezer! Me amarro em Weezer!" Ela olhou pra mim com uma cara indignada e disse: "Que Weezer o quê? O nome dessa música é "Cara Estranho". Já vi que não gostou de novo... Mas quem sou eu pra dizer algum coisa aqui, né? Porra, mas que parece, parece! Mas o que era mesmo que eu não consigo lembrar de jeito nenhum sobre eles? Acho que conheço alguma outra música deles... Só não consigo dizer qual...

Sabia que se eu quisesse me dar bem logo com a Tainá teria que ser entre uma música e outra pois parecia que ela estava vendo um disco voador pousar enquanto os caras tocavam. Resolvi fazer uma piada pra descontrair, que sempre rola em shows. Quando o Campelo tava falando alguma coisa qualquer, berrei: "Filha da putaaaaaaaaaa!" Pra que? Tainá e sua milícia hermanista me deram uma cutucada monstra na costela que me fez enxergar em preto e branco uns 5 minutos! Pô, todo show alguém grita isso! É quase uma tradição até! Eu me amarro no cara! E é só uma piada! Aí, esse pessoal leva tudo muito a sério! Caralho... Pensei em pegar uma camisinha da minha carteira e fazer um balão e jogar pra cima, como rola em todo show, pra mostrar pra Tainá que eu sou uma cara consciente, tipo: "Aí, Tainazão, se tu se animar, eu tô preparado!", mas depois dessa vi que senso de humor não é o forte dessa galera...

O tempo tava passando e nada de eu ficar com minha nova amiguinha. Quando fui tentar falar uma coisa no ouvido dela, foi o exato momento em que começou uma outra música. Foi aí que a louca deu um grito e um pulão tão altos que eu levei uma cabeçada violenta bem no meio do meu queixo! Ela não sentiu nada, óbvio, pois estava em transe hipnótico só por causa de uma canção sobre a beleza de ser palhaço ou lirismo do samba ou qualquer outra coisa do gênero. A porrada foi tão forte que eu mordi um pedaço da língua. Minha boca encheu d´água e sangue na hora! Enquanto eu lutava pra não desmaiar, instintivamente enfiei a manga da minha camisa na boca pra estancar o sangue e não cuspir tudo em cima de Ana Claudia e Jandaína or something. Só que estava tão tonto com a cabeçada que tive que me segurar em uma ou outra pessoa pra não cair duro no chão. Foi quando ouvi: "Nossa, que horror! Lança-perfume! Esse playboy tá doidão de lança! Que decadência..." Lança-perfume? Cara, lógico que não! E mesmo que tivesse, todo show tem isso! Mas nesse, não pode. É "do bem". É feio ter alguém cheirando loló!! Pô, todo show que eu fui na vida tinha alguém movido a clorofórmio. Aqui, não. Rapaz, onde fui me meter?

Babei na minha camisa até o ponto dela ficar ensopada! Fui ao banheiro tentar me recuperar do cacete que tomei. Lavei o rosto e tirei a camisa. Quando voltava passei por uma galera e ouvi resmungarem alguma coisa do tipo: "...e esse mala aí sem camisa..." Porque não se pode tirar a camisa num show? Isso aqui não é só uma apresentação de uma banda? Parecia que eu ainda estava na Europa! Regulões do caralho... E, afinal, o que significa "mala"?

Estava enxergando tudo embaçado e notei que minhas lentes de contato tinham saltado pra longe com a cabeça-aríete de Tainá e esmagadas por centenas de sandálias de dedo. Lembrei que sempre levo um par de lentes extras no bolso. É uma parada moderna que eu achei lá em Londres. Um estojo ultrafino com uma película de silicone transparente dentro que mantém as lentes umedecidas e prontas para uso. Abri o estojo e peguei cuidadosamente a película com as duas mãos e elevei-a contra a luz para conseguir achar as lentes. Estiquei os polegares e indicadores, encostando uns nos outros, para abrir a película entre esses dedos. Balançava o negócio levemente, de um lado para o outro, contra a pouca luz que vinha do palco para conseguir localizar as lentes. Não estava enxergando nada direito! Quando tava lá com as mãos pra cima, fazendo uma força absurda pra achar as lentes, um dos caras legais com nomes simples, me deu um puta safanão no ombro. É claro que o silicone voou longe também... Caralho, minhas lentes! Custaram uma fortuna! Que filho da puta! "Que sinal é esse que tu fazendo aí, meu irmão? Tá desrespeitando as meninas?"

"Que sinal?? Que sinal??", respondi, assustado!

"De buceta, palhaço!", apertando o meu braço que nem um aparelho de pressão desregulado. "Você tá no show do Los Hermanos, ouviu? Los Hermanos! Ninguém faz sinal de buceta em um show do Los Hermanos, sacou?", gritou o tal hipponga na minha cara.

Que viado, eu não tava fazendo nada! Parecia uma freira de colégio! Que lance é essa de buceta? Da onde esse prego tirou isso? As meninas... (Perái! Menina? A mais nova aí tem uns 25!) ficaram me olhando com a cara mais escrota do mundo! A essa altura, já tinha percebido que não ia agarrar a Tainá nem que eu fosse o próprio Caetano Veloso! "Bento", que nome mais ridículo... Isso aqui é um show ou uma reunião de alguma seita messiânica escolhida para repovoar a Terra?

Caramba, que noite infernal! Tava com a língua sangrando, sem enxergar direito, só de calça, arrotando sem parar e puto da vida porque só tinha aceitado vir aqui por causa de mulher. Estava no meu limite. Isso era um show ou uma convenção do Santo Daime? Que patrulhamento! E, de repente, vejo Tainá e seus amigos olhando feio pra mim e cantando a seguinte frase: "Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?" Aí foi demais! Eu me atrevo: Ritmo, melodia e harmonia. Pronto, só isso! Mais nada! Olha só: foda-se o samba, foda-se o circo, foda-se a obsessão por barba da família Campelo e, principalmente, foda-se essa galera "do bem" que está aqui!

Apesar de tudo, a banda é realmente é muito boa! O que incomoda mesmo é esse público metido a politicamente correto e patrulhador e a imprensa que força a barra pra vender alguma imagem hipertrofiada do que rola de verdade. Esse climão de festival antigo de música popular brasileira, daqueles com imagens em preto e branco, com todo mundo participando, que volta e meia reprisam na tv, tudo lindo e maravilhoso. "Puxa vida, um novo movimento musical brasileiro!"? "Estamos realmente resgatando a nossa cultura!" ? Que exagero... Ei, é só música pop! MÚSICA POP!

Caralho, finalmente lembrei! Eu conheço uma música deles! Ouvi em Londres! Numa última tentativa de salvar meu filme com Tainá, na hora do bis, berrei bem alto: "TOCA ANA JULIA!" Só acordei no hospital. Tomei tanta porrada que vou ter que fazer uma plástica pra tirar as marcas de pneu da minha cara! Fui pisoteado! Neguinho ficou puto! Qual é o problema com essa música? Me lembro de estar sendo chutado pela elite dos estudantes universitários brasileiros e da própria Tainá, gritando e me dando um monte de bolsadas na cabeça! Que porra louca! Tentaram me linchar! Ofendi todo mundo! Pô, Ana Julia é uma música boa sim! É um pop bem feito! Se não fosse, o "Seu Jorge" Harrison não teria gravado, né? Se ele não entende de música, quem entende? Me disseram depois que o tal Campelo se retirou do palco chorando, magoado, e o outro irmão mais novo dele, o nervosinho que imita o Paul McCartney, pulou do palco pra me bicar também. Do bem? Do bem é o cacete...

Aí, sinceramente, ainda prefiro o show do Camisa de Vênus...

Adolar Gangorra

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Motivos

“Oi!”

“Oi”

“Tá sozinho?”

“Sim”

“O que tá fazendo?”

“O de sempre”

“O quê?”

“Em casa”

“Por quê?”

“Evitando algumas pessoas”

“Por quê?”

“Coisa minha”

“Como assim?”

“Fincando em casa”

“Não, quis dizer ‘como assim’ no sentido de ‘por que’ está evitando as pessoas?”

“Não estou evitando as pessoas, apenas algumas”

“Ah, mas isso não muda muita coisa”

“Pra mim, muda tudo”

“Sim, mas por que está evitando ‘algumas’ pessoas?”

“Dessa forma eu evito aborrecimentos”

“Sei! Quer tomar uma cerveja?”

“Já estou tomando”

“Quero dizer comigo”

“Já disse, estou evitando aborrecimentos”

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Uma boa desculpa

Faz um bom tempo que não escrevo nada por aqui. Deixei esse meu canto bem abandonado e tenho meus bons motivos. Acho que vai ficar ainda mais difícil de postar alguma coisa 'por cá' nesses outros futuros dias. Tenho uma porção de coisas pra escrever/entregar e eu ainda resido nos anos 90; sem internet, fone fixo e leptop. E isso não é uma opção.


Sem mais!

"lie to me

eu começo acreditando; sempre. ninguém precisa conquistar a minha confiança. tem muita gente por aí que mente o tempo todo, mas tem gente que sabe o quão mais fácil e prazeroso é ser honesto. eu escolhi privilegiar o segundo grupo. não sou ingênua, eu escolhi acreditar, não fui levada a acreditar. percebe a diferença? normalmente o mitômano é uma pessoa com séria dificuldade em acreditar em si mesmo e assumir posições claras na vida. eu presto atenção. não percebendo a diferença entre ser enganado e escolher acreditar, o mitômano baixa a guarda, sente-se seguro na mentirinha que tão ardilosamente preparou, acho que isso leva até um sentimento de superioridade e o sujeito acaba viciado nisso. mas, algumas pessoas, aquelas que escolheram acreditar, estão atentas. em pouco tempo a situação fica translúcida, quem mente demais não consegue prestar atenção nos detalhes. eu convivi com mitômanos a vida toda, aprendi a construir umas armadilhas, porque eu simplesmente me recusei em classificar as pessoas em um só tipo. nem todo mundo mente. quando eu percebo claramente que tanto tempo foi perdido com alguém que não estava ali, sinto-me triste, porque essa pessoa não faz a menor idéia que a vida pode ser muito melhor e mais simples. não mentir não significa falar a verdade o tempo todo, significa simplesmente não mentir. a mentira geralmente é desnecessária, por favor, não me procure só pra inventar uma história que vai ficar cada vez mais inverossímil. é como um filme ruim reescrito várias vezes por um péssimo roteirista."

Luana Vignon

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

WikiLeaks

do blog de Ademir Assunção.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Luana Vignon na prateleira - 23 de novembro

Panelinha Books convida;

Serviço:
Coquetel de lançamento do livro “Os tiros vêm do paraíso” + festa de “inauguração” da Panelinha Books

Dia 23 de novembro de 2010, terça-feira, 20h

Club Noir (r. augusta, 331)

Entrada franca

Preço do livro: R$ 10,00 *

*preço promocional apenas para o dia do lançamento

sábado, 6 de novembro de 2010

Não apenas pela data de hoje

Rafael e minha prima Natália

Há exatos 14 anos, enquanto saia do prédio onde morava no centro de Campo Grande, encontrei meu pai que caminhava vagarosamente pela calçada. Ele havia almoçado com minha mãe naquele começo de tarde e comprado algumas coisas que ela precisava pra casa, se é que me lembro bem. Ele voltava pro trabalho enquanto ela seguia pra casa com algumas sacolas a tira colo. Fiquei extremamente contente em encontrá-lo naquela ocasião. Existia um misto de alegria e medo que havia se instalado na minha cabeça alguns meses antes.
"Pai, seu neto nasceu... tô indo pra maternidade vê-lo". Disse apenas isso. Assim, sem pensar se era a forma correta de se dar uma notícia daquela. Ele abriu um sorriso largo e seus olhos ficaram maiores naquele momento. "Corre alí, que sua tá indo embora, alcança ela..." Foi mais ou menos isso que ele disse. Não tenho certeza, mas acredito que seus dois pés saíram do chão enquanto falava aquilo.
Subi na moto, dobrei a esquina e avistei minha mãe na calçada, que caminhava em direção ao ponto de ônibus. Parecia que ela sabia de tudo. Não foi precisei falar quase nada. Era como se eu falasse "mãe, vamos lá, vamos pra maternidade". E foi mais ou menos por aí.
Ninguém na minha família sabia da gravidez da minha ex-namorada. Tínhamos ido à casa dos meus pais uma vez em um almoço de domingo. Mas sua barriga de seis meses não deu pista alguma para os olhos atentos e vorazes da minha mãe e das minhas atenciosas tias. Ela era magra e bonita e, durante a gestação, continuou sendo a mesma garota de dezenove anos, magra e bonita.
A emoção de vê-lo foi indescritível. A emoção de ver minha mãe com aquele brilho estranho nos olhos é ainda mais incrível e impossível de registrar em palavras.
Porém, é uma história bastante complicada, tínhamos nossas diferenças e, de alguma forma, eu precisava pagar um preço. Superados alguns problemas, na última noite de 1996 fui buscá-lo pra passar a virada do ano na casa da minha avó. A numerosa família se reúne na casa da vó Laura pra comer, beber, jogar baralho, (agora também tem bilhar), comer ainda mais, tomar tereré e falar bem e mal uns dos outros, numa festa que eu não costumo perder por qualquer motivo.
Daquela noite em diante minha mãe e meu pai jamais o deixou. Por motivos que não cabem aqui, pelo menos nesse momento, ele permaneceu com a gente.
Hoje ele completa 14 anos. Em seu RG consta como pai, Ademir Muniz Dias. Não sei explicar o porquê, mas ele tem bastante orgulho disso.
Gostamos de andar a cavalo e ficar de bate papo no final da tarde. Ele fala da escola, dos colegas e conta histórias da região. Eu gosto de ouvi-lo, e gosto mais ainda de vê-lo alegre por estarmos conversando. Parabéns filho. Parabéns pela pessoa maravilhosa e querida que você é. E obrigado por fazer essa família ser ainda melhor.

sábado, 30 de outubro de 2010

Me falta paciência, não educação

Ando meio intolerante. Ontem discuti com o porteiro do prédio de uma amiga. Ela ficou muito chateada comigo e me enviou uma mensagem bem desagradável. Dia desses me desentendi também com o atendente do SubWay por que não tinha queijo cheddar. Mas isso é só pra citar dois exemplos recentes. Perdi a paciência tem algum tempo. E pra ser sincero, não estou a procura dela. Não consigo fingir que não ouvi, que está tudo bem, deixar pra lá. Parece besteira, mas quando vou a uma lanchonete dessas, que enchem a TV com publicidade que enfatizam a qualidade, tanto do produto quanto do atendimento, não admito uma forma de tratamento que é, no mínimo, desrespeitosa. Eu levei pro lado da ofensa mesmo. Não é o simples fato de não haver um produto, mas de ser tratado com total indiferença e desprezo. De ter a certeza de estar sendo enganado. Não tinha sido a primeira vez. Um dia não havia alface americana, aí os sábios o substituíram pelo crespo. Saca! Alface americana; três reais, alface crespo; um real. Você ser ludibriado; não tem preço?! Esse é o SubWay. E está tudo bem, somos assim mesmo. Vamos indo.
O porteiro me tratou super mal. Também, atrapalhei a novela dele. Fez cara feia e resmungou frases inaudíveis. Foi uma discussão boba e até calma. Mas ele me tratou como um malando, disse pra eu ficar na minha, e isso me tirou do sério. Como assim, “fica na sua”?! Achei um absurdo essa expressão. Não sou malandro, não trato ninguém como malandro e não admito que ninguém me trate como. Minha amiga disse, furiosa, que ele contou a ela que eu o xinguei e algumas coisas mais. Que merda. Nem quis me defender. Não achei necessário. Acredito que ela me conheça o suficiente pra saber que eu jamais faria isso.
Ser intolerante é absolutamente diferente de sair por aí ofendendo gratuitamente as pessoas, estejam elas trabalhando ou não.
Sou intolerante. Sei disso e provavelmente não vou mudar. Tento apenas evitar alguns estragos.
Lembro da primeira vez em que vi o Mário Bortolotto ler esse poema. Foi em uma edição do CEP 20.000 em São Paulo, no Satyros 2. Não recordo do ano, e nem vou me esforçar em lembrar. Não importa. É algo tão marcante que me parece que foi na madrugada de ontem. Mas disso tenho certeza que não.
É um dos meus poemas favoritos. Daquelas que agente costuma ler antes de dormir, levemente embriagado, ou bem mais que levemente.



um lugar legal pra estar
(When the music stops)

Ela me disse casualmente
que havia notado a mancha de sangue na minha camisa
Disse a ela: “Não se preocupe, não é nada”
Ela respondeu: “Não tô preocupada”
Resmunguei: “É melhor assim”
Achei que podia me divertir um pouco
assistindo uma luta de boxe na TV
Tirei a camisa manchada de sangue a joguei no tanque
Ela vestiu uma micro saia e saiu pra rua
Abri uma cerveja e resolvi esperar
Os ponteiros do relógio eram guilhotinas no meu pescoço
Quando ela voltou, não falei nada
Fiquei no escuro vendo ela se mexer
deixando cair a saia
no caminho pro banheiro
Deixou a luz acesa e ouvi o barulho
não vou usar de eufemismos nesse momento
pra dizer o que ela estava fazendo
somos um casal com tempo de serviço
nossa indiferença mútua provava isso
meu enorme peso no sofá atestava isso
Ela acendeu um cigarro no escuro da sala
e a chama do isqueiro fez com que ela me notasse
“é mais difícil do que você imagina”, ela disse
e seu desprezo me acertou como um blefe de pôquer
Ainda ficou um tempo olhando pra mim
antes de vender o orgulho e perguntar
“O que era a mancha na sua camisa?”
“Já disse. Não e nada. Não precisa se preocupar”
Ela soltou um foda-se e foi pro quarto,
deitou e ficou fumando olhando o teto
Levantei e fui até o banheiro
Cambaleei e tive que me apoiar na porta
Abri a armário e peguei o mercúrio-cromo
ou você não sabia que a maioria das histórias de amor
termina com alguém limpando as feridas?

Mário Bortolotto

Eh, Jair!


Fernando González é genial.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

"Ontem me Perguntaram
se eu tinha ficado triste com uma coisa aí, eu disse que não, mas é claro que eu fiquei triste, porque é inevitável entristecer-se quando finalmente se entende que alguns atos egoístas foram altamente destrutivos e que coisas especiais foram estupidamente negligenciadas. a tristeza passa, mas o erro permanece."

Luana Vignon